Fé x Razão

A defesa da fé cristã é uma necessidade. Estamos preparados? Estamos preocupados com a voz cristã no espaço público? Ou simplesmente achamos que o nosso cristianismo é algo a ser guardado atrás das paredes inertes de nossas cátedras? Estamos sendo luz do mundo ou uma lâmpada escondida debaixo da capa de nossa religiosidade? Em tempos de secularismo e desprezo pela verdade de Cristo como único Salvador e Senhor devemos estar mais do que preparados para essa batalha.

Alguém disse que a Bíblia ensina que a fé “não pede explicações”. Mas essa ideia é obsoleta, pois o apóstolo Pedro nos ensina: “Antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós” (1 Pd 3.15).

A professora de história Miriam Ilza Santana, postou um artigo no blog InfoEscola, que para aquele que tem fé religiosa Deus existe, porém para a filosofia não basta ter fé, é preciso evidenciar que Ele existe de verdade. Para os fervorosos, Deus é um ser perfeito, dotado de bondade e filantrópico, que penitencia os maus e gratifica os bons.
O poder espiritual aceita que Deus aja no universo efetuando milagres; para a filosofia, é necessário demonstrar com fatos, testemunhos, documentos, etc, que o espírito tem a faculdade de exercer influência sobre a matéria, e responder por qual motivo Deus, que tudo sabe, sendo capaz de realizar milagres, deixaria pendente o ordenamento do mundo criado por Ele mesmo. Uma vez completo, absoluto e infinito, por qual motivo instituiria um universo não espiritual, finito e defeituoso?

Para o seguidor de uma religião o espírito é imortal e predestinado a uma existência prometida; a filosofia exige provas dessa eternidade. Para concorrer com as indagações da filosofia, o Cristianismo transformou-se em Teologia – ciência que versa sobre Deus -, converteu os textos da história santificada em teoria, feito que nenhuma outra religião conseguiu realizar.

A religião trata a filosofia como a ciência do contra-senso e da incredulidade, e a filosofia, por sua vez, denuncia que a religião é a única detentora da verdade, além de ser preconceituosa, desatualizada e intransigente.

O que se conclui após esse embate entre a fé e a razão, a filosofia e a igreja, é que a verdade com certeza não se encontra na posse de nenhuma das duas doutrinas, mas é uma conquista progressiva do conhecimento científico, aliado ao saber religioso.

O desafio que temos diante de nós, está nos impondo a obrigação de nos envolvermos em uma busca maior pelas verdades eternas da palavra de Deus; considerando que a Bíblia está com a resposta para todos os questionamentos humanos e que Deus, antes de ser um princípio absoluto em si mesmo – Ele é uma pessoa. Sendo quem Ele é tudo lhe está subordinado e predeterminado antes da fundação do mundo.

Primeira Parte
A importância desse tema e suas dificuldades
A ciência não é contrária ao Cristianismo ou o conhecimento contrário à fé, mas existem radicais em todas as esquinas afirmando tais coisas, sejam eles teístas ou ateístas. A apostasia tem feito suas vitimas mesmo nos círculos cristãos mais conservadores. Pessoas que confessavam crer na inerrância das Escrituras no inicio de suas conversões, hoje já não têm a mesma confiança que professavam.

Precisamos considerar a palavra de Deus não somente como verdade absoluta, mas também precisamos manter os olhos bem abertos para discernir as distorções que alguns fazem do texto sagrado. O sábio conselho de Paulo ao seu jovem pupilo Timóteo, tem a mesma importância para nós nos dias atuais: “Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste e de que foste inteirado…”. Timóteo não só aprendeu das Escrituras, mas foi também “inteirado”. Este termo, πιστοω pistoo, aqui significa “ser firmemente persuadido de”, dando o sentido de convencimento. “Note que aprender não basta. O que se aprendeu deve ser aplicado pelo Espírito Santo ao coração, para que também se chegue ao convencimento, com uma convicção que transforme a vida.”

Existem inúmeros obstáculos com os quais precisamos nos preocupar. Dentre eles podemos destacar ceticismo intelectual que tem causado muitos males.
Para muitos estudantes o ingresso na faculdade significa a realização de um sonho, a possibilidade de se prepararem para a capacitação profissional. Com isso, uma nova realidade se desdobra na vida deles. Para alguns deles, a entrada na universidade é a oportunidade de viver segundo a sua liberdade; e atraídos por tudo àquilo que o mundo oferece, assumem outros compromissos julgando-os mais importantes e urgentes. Quase que seguindo os mesmos passos de outros que os antecederam, muitos colocam a sua experiência de fé num segundo plano. Dessa maneira, pouco a pouco, abandonam o conhecimento transmitido pela Bíblia. Como sabemos, os obstáculos intelectuais normalmente são apenas uma desculpa para os não-cristãos, mas, quando se remove a essência de suas desculpas, ficam desprotegidos para confrontar seus obstáculos reais, seus verdadeiros demônios.

No passado, a dúvida dos não-cristãos era se o cristianismo era a única religião verdadeira, se alguma das outras religiões era verdadeira ou se Deus existia. Mas, de maneira geral, eles não estavam sobrecarregados pelo fardo de determinar se havia a assim chamada verdade.
Nossa cultura pós-moderna apresenta uma série de ideias sobre a verdade. Ela ensina que a verdade e a moralidade são relativas, que não existe essa coisa de verdade absoluta. Para a elite intelectual que domina as nossas universidades e os principais meios de comunicação, essas ideias são consideradas sábias e progressistas, embora todos compreendamos intuitivamente que existe uma verdade absoluta e, mais importante, que todos conduzimos nossa vida baseados nesse reconhecimento. “Conhecereis a verdade e ela vos libertará”… Para aqueles que estão envolvidos num ceticismo ditado pelos “mestres do conhecimento”, o céu e a salvação eterna são tidos apenas como utopia. Esse é o grande desafio que temos que enfrentar caso queiramos lograr êxito em nossa missão.

Segunda Parte
O que significa fé para as pessoas modernas?
Para muitas pessoas às vezes, a fé é aquele recurso que nós lançamos mão quando nos vemos nas situações de fronteira – nas situações de limites humanos. Depois de termos tentado vários meios, vários recursos e todos falharam, então a fé é esse recurso que apelamos para resolver essas situações impossíveis para nós.
A fé não pede explicações; é assim que a Bíblia ensina. Há muitos tipos de pessoas que se dizem cristãs, mas negam a veracidade das narrativas bíblicas, que consideram mitos, acréscimos textuais ou coisas desse tipo. Tais pessoas não aceitam os mais elementares valores do cristianismo e até acreditam na fé, mas são incapazes de acreditar no doador dessa fé.

A razão humana não pode ser encontrada em estado natural. As pessoas são educadas em sociedades com valores e princípios impregnados de conceitos ideológicos próprios. Quem gosta de julgar os outros à luz da razão deste mundo deve considerar que esta não fornece a única e nem a verdadeira visão da vida.

COMO A BÍBLIA DEFINE FÉ?  → “Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam e a convicção de fatos que se não veem. De fato, sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam” (Hb 11.1,6).
O escritor aos hebreus assevera que sem fé é impossível nos tornarmos pessoas agradáveis a Deus. A fé não é apenas o recurso que usamos para alcançar as bênçãos de Deus. A fé tem a ver com a ideia de permanecer diante de alguma dificuldade por um longo período crendo na resposta certa vinda da parte de Deus.
O secular conflito entre fé e razão, estabelecido desde os primórdios do cristianismo, iniciou-se com a necessidade da cultura grega no sentido de desejar e compreender, pela racionalidade lógica, o discurso e a prática dos cristãos.

Esse conflito deu origem à filosofia cristã, à teologia, aos credos e aos dogmas, propiciando uma crença híbrida, formal e ritualista, que resultou na igreja romana cuja história é muito bem conhecida.

O mundo contemporâneo continua, por influência das mais diversas filosofias, considerando a razão a dona da verdade; a única maneira de conhecer capaz de descortinar a verdade aos homens. Infelizmente, a cultura europeia, da qual somos herdeiros pobres, não reconhece o âmbito da fé, onde se encontram o sagrado, o mistério e a revelação, e a verdade é que foi exatamente esse âmbito escolhido por Deus para se revelar à sua criatura.
Quais dos personagens históricos descritos pelo escritor aos hebreus (11.32-40) viveram pela fé? Os que fecharam bocas de leões ou os que foram comidos pelos leões? Os que venceram exércitos poderosos ou os que foram cerrados ao meio pela espada? Os que tiveram seus mortos de volta pela ressurreição ou os que os perderam e ficou por isso mesmo? Quem é que tinha mais fé?

Provavelmente pelo nosso conceito popular de fé, certamente aqueles que fecharam as bocas dos leões, venceram exércitos poderosos, tinham mais fé. Mais o autor de hebreus determina que todos eles viveram igualmente pela fé. Porque a fé não foi determinada pelas grandes coisas que fizeram ou pelas grandes tragédias que experimentaram. A fé foi determinada pela confiança que eles depositaram na promessa e na palavra de Deus.

Terceira Parte
OS DESAFIOS DA IGREJA NO SÉCULO XXI
A Igreja tem sido objeto de barganha no meio da diluição da pregação da palavra nos púlpitos brasileiros e nos canais de televisão, mas apenas a obra de Cristo pode responder aos anseios do homem moderno. Muda-se a roupagem, mas a essência é a mesma. Não podemos confundir eterno com temporal, nem acidente com essência. “Se alguém vem até vós e vos anuncia outro evangelho que vai além do Evangelho que vos tenho pregado, seja anátema!” (Gl 1.8).

A Igreja de Cristo sempre teve grandes desafios no decorrer da sua história, e em cada geração, teve que responder às questões e necessidades que surgiam. A Bíblia afirma que “tendo Davi servido à sua própria geração, adormeceu” (At 13.36). Ele não foi chamado por Deus para exercer seu ministério e testemunho em outra geração. Seu chamado era para seu tempo. No Século XXI, são inúmeros os desafios, e temos diante de nós uma lista quase inesgotável, por isto decidimos enumerar alguns para nossa reflexão.

  • Um mundo de incertezas cada vez mais crescente

Em Lucas 18.8 na segunda parte do texto está dito: “… Quando, porém vier o Filho do homem, porventura achará fé na terra?”.
Esta triste pergunta feita pelo Senhor parece sugerir que a verdadeira fé Cristã chegaria ao ponto de quase desaparecer da terra mesmo antes do Seu regresso. Olhando para o mundo hoje em dia, com a crescente Cristo-fobia e Teofobia e tudo o mais (principalmente na Europa), não é difícil de pensar assim.

Uma vez que todo o ser humano – incluindo o crente ateu – possui fé em algo, é claro que o Senhor Jesus usou a palavra “fé” em referência específica à confiança genuína no verdadeiro Deus e na Sua Palavra. Evidentemente essa fé seria uma raridade nos últimos dias. É fato – a apostasia é cada vez mais crescente.
Jesus nos ensina que fé é um jeito de viver no mundo de escolhas: “Quando o Filho do Homem vier, achará fé – alguém vivendo segundo uma sábia opção que contraria o sistema operante contrário à vontade de Deus?”.

  • Um mundo sem Deus

O escritor cristão Rubem Amorese, em seu livro Icabode: Da mente de Cristo à consciência moderna (São Paulo, Abba Press, 1994), mostra as três forças da modernidade e seu efeito devastador sobre a igreja: a pluralização (o império das diferenças), a privatização (o império das indiferenças) e a secularização (o império dos sentidos).
Ele assevera que vivemos um tempo de desobediência. Não necessariamente por uma rebelião, mas por afrouxamento dos valores ou por falta de zelo com a Palavra de Deus. A rebelião moderna se dá “naturalmente”, no campo ideológico, travestida de senso crítico.

A igreja vê-se diante de uma nova realidade ameaçadora, mas que tem uma característica peculiar e incomum: não se trata de um inimigo, pelo menos no sentido em que os outros mostraram-se na história. Trata-se mais de um aliado que oferece vários recursos considerados imprescindíveis para o avanço do evangelho. É exatamente aí que mora o perigo. Ao criar uma nova atmosfera de possibilidades e realizações, tira da igreja a capacidade de discernir os acontecimentos à sua volta. E devagar, sem que ela perceba, vai minando suas bases, até comprometer sua identidade.

Dá pra imaginar como seria o mundo sem Deus? Essa pergunta tem sido formulada por causa de uma crescente inquietação do homem moderno que acha cada vez mais complicada a intervenção divina em seus projetos. Como eu penso que seria um mundo sem Deus, onde o cristianismo não seria mais experimentado e o ser humano estaria entregue ao seu próprio conhecimento e evolução, buscando na sua própria inteligência a solução para os seus problemas? Certamente precisamos admitir que, mesmo com a presença da igreja, já se experimenta uma sensação de caos, imagine um mundo onde Deus não pode interferir? Seria o mundo do caos.
Para uma melhor compreensão da disciplina, vejamos dois personagens históricos que nos ajudarão a ver a complexidade de uma existência sem Deus: Nietzsche e Nicodemos.

1.    Friedrich Wilhem Nietzsche
Nasceu numa família luterana em 15 de outubro de 1844, filho de karl ludwig, seus dois avós eram pastores protestantes; o próprio nietzsche pensou em seguir a carreira de pastor. Entretanto, nietzsche rejeitou a “fé” durante sua adolescência, e os seus estudos de filosofia afastaram-no da carreira teológica. Iniciou seus estudos no semestre de inverno de 1864-1865 na universidade de bonn em filologia clássica e teologia evangélica.

No curso de suas obras, Nietzsche afirmou a filosofia socrático-platônica como precursora dos valores de decadência do cristianismo, desenvolvendo um agudo questionamento ao idealismo por ela estabelecido, a que chama de ilusões da razão e origem da fraude das convicções da filosofia ocidental.
Recusando a moral cristã, e negando seus postulados, Nietzsche condena o que assevera ser a negativização da existência humana, fruto da negação dos instintos e da resultante incapacidade de se aceitar a finitude da vida, crendo-se numa ilusória vida no além-túmulo – verdadeiro refúgio no nada, na fuga do mundo –, conduzindo somente ao declínio da vontade forte de poder.

Não podemos ignorar que a decretada “morte de Deus” é um dos mais debatidos enunciados de sua filosofia, merecendo atenção não somente da filosofia da religião – sob a qual ocorre o questionamento de vários postulados do pensamento nietzscheano – mas, incluindo-se no debate de várias especialidades da Filosofia, em especial por sua crítica acerca da moral e da razão subjacentes à pregação anticristã do filósofo, propiciando um fértil campo de discussão para a ética.
Mas, retornando à “morte de Deus”, estaria Nietzsche constatando o ocaso da religião cristã? Ou, numa outra perspectiva, fazendo uma exposição visceral do que considera sua inevitável superação? Ou, acima de tudo, criticando o racionalismo conceitual do pensamento ocidental (o valor do saber, a moral etc), ou atribuindo a “morte de Deus” à necessidade do Homem reelaborar o conceito de Deus e os valores vigentes da religião, em prol de um “Deus dos fortes” e da valorização dos instintos?

Na obra A Gaia Ciência (1882), no aforismo 125 do Livro III encontramos:O homem louco. – Não ouviram falar daquele homem louco que em plena manhã acendeu uma lanterna e correu ao mercado, e pôs-se a gritar incessantemente: “Procuro Deus! Procuro Deus!”? – E como lá se encontrassem muitos daqueles que não criam em Deus, ele despertou com isso uma grande gargalhada.Então ele está perdido? perguntou um deles. Ele se perdeu como uma criança? disse um outro. Está se escondendo? Ele tem medo de nós? Embarcou num navio? Emigrou? – gritavam e riam uns para os outros.

O homem louco se lançou para o meio deles e trespassou-os com seu olhar. “Para onde foi Deus?”, gritou ele, “já lhes direi”! Nós o matamos – vocês e eu. Somos todos seus assassinos! […] Deus está morto! Deus continua morto! E nós o matamos!
Esse anúncio ressurge na sua obra poética Assim Falou Zaratustra. Ao se encontrar com um “santo”, Zaratustra ouve-o reportar-se a Deus, e pergunta a si mesmo “Será possível que este santo ancião ainda não ouviu no seu bosque que Deus já morreu”.
Assim falou Zaratustra, preâmbulo, p. 25.
Portando Deus já está morto, e Nietzsche denuncia a falta de percepção daqueles que desconhecem esse fato. Segue-se a esse anúncio uma acirrada crítica ao que Nietzsche acusava como a mutiladora do homem e negadora de seus instintos mais nobres: a fé cristã.
ABM, § 46, p.52.

Podemos identificar que a questão central da crítica de Nietzsche ao cristianismo não é necessariamente a recusa a Deus como possibilidade, mas a crítica ao cristianismo e conseqüentemente à sua base teísta, inserido-o em sua crítica aos juízos de valor, aos conceitos de verdade e certeza, ao predomínio da razão sobre os instintos.
“Deus está morto! Deus permanece morto! E quem o matou fomos nós! Como haveremos de nos consolar, nós os algozes dos algozes? O que o mundo possuiu, até agora, de mais sagrado e mais poderoso sucumbiu exangue aos golpes das nossas lâminas. Quem nos limpará desse sangue? Qual a água que nos lavará? Que solenidades de desagravo, que jogos sagrados haveremos de inventar? A grandiosidade deste ato não será demasiada para nós? Não teremos de nos tornar nós próprios deuses, para parecermos apenas dignos dele? Nunca existiu ato mais grandioso, e, quem quer que nasça depois de nós, passará a fazer parte, mercê deste ato, de uma história superior a toda a história até hoje!”.

2.    Nicodemos (João 3:1-10)
O texto bíblico nos apresenta um homem chamado Nicodemos, que é identificado como um fariseu. Isso significa que ele fazia parte de uma ala conservadora do judaísmo do século I. Essa ala do judaísmo era grandemente respeitada na comunidade, no que diz respeito à disciplina, às boas obras e a certo tipo de ortodoxia, embora, às vezes, fosse dado a regras excessivas. No topo de sua filiação religiosa, ele era membro do conselho de governo dos judeus; quase certamente isso se refere ao Sinédrio, o conselho supremo formado por 70 ou 72 homens que governavam o país em sujeição ao domínio romano. Isso significa que Nicodemos pertencia tanto a um partido religioso ou político especifico como à elite política. Essa combinação de elite política e elite religiosa o colocavam na classe mais elevada em seu país. Jesus o chamou de “mestre em Israel” (Jo.3.10). Esta expressão sugere que Nicodemos era reputado como o “mestre em Israel”, o distinto professor de teologia. Portanto, ele tinha conexões políticas e religiosas; era também erudito e mestre.

Nicodemos veio a Jesus, durante a noite com certo tipo de confusão. Isso parte do pressuposto de que a colocação que ele fez a cerca de Jesus: “Rabi, sabemos que é Mestre vindo da parte de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não for com ele” (3.2), dá-nos uma luz a cerca da agonia de sua alma em saber com precisão se Jesus é realmente aquele que estabeleceria o reino vindouro – o reino de Davi prometido a Israel.
Sabe-se que existia uma expectativa geral de que, um grande descendente de Davi viria e introduziria o reino restaurado e aguardado por muito tempo. E agora, o que Nicodemos vê? Ele vê Jesus realizando sinais miraculosos que não podia ser explicados como truques de alguns charlatões. Ele vê isso como o reino de Deus, o poder de Deus. Mas Jesus esclarece que na verdade Nicodemos não viu esse reino que ele acha ter visto. Para ver esse reino, Jesus diz que a condição imposta é o “Novo Nascimento”.

Aqui temos a questão: Quando pregamos ou ensinamos aos outros, estamos vivendo o que estamos ensinando? Quando pregamos e ensinamos as pessoas, cremos no que estamos fazendo ou estamos apenas iludidos que sabemos por haver aprendido a mascarar nossa incapacidade e despreparo? Ou ainda pior: Quando pregamos ou ensinamos, temos a aprovação de Deus no que estamos fazendo ou temos apenas aquela sensação de que na verdade Deus está apenas nos tolerando? Essas são questões sérias que precisam ser repensadas. Precisamos nos desvencilhar de nossas arrogantes pretensões de que sabemos o suficiente pra salvar os outros quando nem temos certeza se estamos salvos.

Quarta Parte
IDENTIFICANDO AS DEFICIÊNCIAS DA IGREJA NO SÉCULO XXI

  1. A banalização do sagrado (Atos 8.9-24)

Nestes textos, Simão Mago, evidentemente cultivava a ideia, entre os samaritanos, de que ele era alguma espécie de emanação divina, alguma fagulha do fogo divino, conforme se poderia expressar através do neoplatonismo ou através de alguma forma de estoicismo metafísico. Sem duvida alguma Simão Mago modificara um tanto a forma de expressão dessa doutrina, adaptando-a à religião dos samaritanos, na qual o nome de Yahweh era considerado como o grande Deus, tal como sucedia também entre os judeus.

Parece, porém, que o poder obviamente superior de Filipe, bem como os muitos milagres por ele praticados, eclipsou a glória de Simão; e então, ou movido pelo espírito de competição, procurando preservar algo de sua anterior reputação, ou impulsionado por um zelo sincero, mas ignorante, ele abraçou o cristianismo e foi batizado nas águas (O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo -russell norman champlin, Vol. III – pág. 171).
A atitude de Simão foi considerada pecaminosa pela teologia cristã, foi denominado de simonia (ato de Simão), termo que define especificamente o comércio ou tráfico de coisas sagradas e espirituais, tais como sacramentos, dignidades, indulgências e benefícios eclesiásticos, e que estaria no centro das críticas e discussão que conduziriam à Reforma protestante no século XVI.

Simbolicamente, Simão, ressurge na atual Igreja Evangélica Brasileira, no comércio, no tráfico das coisas sagradas e espirituais. Simão foi repreendido por querer mercadejar “o dom de Deus” (At 8.19-20). Tudo que ele queria era comprar e depois revender. Ele já tinha um banco de clientes iludidos, e clientes fidelizados “por muito tempo” (At 8.12). A faixa etária ia desde “o menor até o maior” (v. 12). Imagina o que Simão faria com mais este poder em suas mãos? Toda finalidade de Simão se resumia num único objetivo – MANIPULAR A MASSA. Os Simãos que hoje fazem parte da Igreja Evangélica Brasileira, não querem outra coisa se não “encantar”, “iludir”, colocar o povo no “cabresto” do medo, em nome de uma falsa autoridade espiritual, em nome de uma nova revelação, em nome de uma nova unção, em nome de si mesmo, que outra coisa não quer, senão ser o centro dos holofotes.

A simonia praticada pelos novos evangélicos repugna. O tráfico do sagrado é tão flagranteado, e tão escancarado, que tais discípulos de Simão, usam vastamente a mídia para enganar uma massa de 35 milhões de pessoas, dando a eles a oportunidade de passear por um shopping de ofertas dos últimos lançamentos dos objetos e adereços da fé. Aceitando na prática mercadológica de Simão, desde o cartão de crédito até o vale refeição do iludido fiel.

2 . A busca pela verdade no terreno conflitante das ideias
Felipe e o eunuco: Um exemplo de Hermenêutica (Atos 8.26-39)
O texto supracitado narra o contexto do batismo de um eunuco etíope, alto funcionário de Candace, por Filipe. O texto diz que o eunuco estava lendo o profeta Isaías quando foi interpelado por Filipe sobre a compreensão do que lia. Nesse pequeno diálogo, emergem duas perguntas de fundo interpretativo: “Entendes o que lês?” e “Como o poderia, disse ele, se ninguém me explicar?”.

Essas são perguntas geradas pelo anseio de apreender – assimilar com profundidade – o conteúdo do texto. Quando Filipe se propõe a explicar, tornar claro, o texto bíblico para o Eunuco (At 8,31-35), ele se coloca na posição de exegeta; de hermeneuta. Filipe conduz o eunuco pela leitura do texto e em seguida expõe o seu conteúdo de maneira clara e contextual.

“[…] Entendes o que lês?”
É com essa pergunta que a hermenêutica se inicia. O ministro das finanças da rainha de Candace estava voltando para casa, na Etiópia, depois de ter ido adorar o Deus dos deuses, na cidade de Jerusalém. Não viu, nem ouviu Jesus, mas levava consigo um manuscrito do livro do profeta Isaías, que lia e no qual meditava (Isaías 53:7). Mas não sabia do que o texto se referia daí a necessidade de que alguém lhe esclarecesse. Por providência de Deus, aparece Filipe que, convidado pelo eunuco sobe na sua carruagem e lhe faz uma exposição do texto, levando o eunuco à conversão.

A realidade que se pode inferir desse episodio é que, um pouco diferente de Filipe que tinha apenas um eunuco confuso diante dele em busca de esclarecimento,  temos diante de nós uma multidão de pessoas que nada sabem de Deus e sua vontade. O tempo passou, mas o desafio continua, e nó precisamos dar uma resposta à inquietação do homem moderno e só o faremos satisfatoriamente se soubermos o que estamos lendo. Essa pergunta ainda nos desafia: “ENTENDES O QUE LÊS?”.
“[…] Como poderei entender, se alguém não me ensinar – Guiar ?”

Essa desafiadora resposta dada pelo Eunuco à pergunta “Entendes o que lês?” feita por Filipe, continua ecoando até os dias de hoje. Afinal não são poucos que, como a exemplo do Eunuco, tem dificuldades em entender as verdades eternas.

As palavras gregas “Explicar” e “Guiar” tem a mesma raiz verbal: “Liderar”.
O africano convida Filipe a subir na carruagem para acompanhá-lo, sendo seu guia. Isso demandará algum tempo. Filipe tem que fazer uma escolha: ficará ao lado da carruagem, dando informações e respondendo perguntas das Escrituras – trabalho de exegese, que é fácil para ele ou se envolverá em uma investigação espiritual com o estranho?
É essa a diferença entre o balconista que te vende mapas do deserto e a pessoa que vai com ele arriscando-se nos perigos, ajudando a caminhar e compartilhando as condições climáticas. Filipe decidiu a favor do caminho – de guiá-lo.

“[…] A quem se refere o profeta?” “Fala de si mesmo ou de algum outro?” (v.34)
Lutero insistia em que “devíamos sempre ler as Escrituras procurando o que nos leva a Cristo”. As Escrituras são a Palavra de Deus em Jesus Cristo, e este é a Palavra de Deus naquelas (Principio Hermenêutico de Filipe).

Jesus não declara simplesmente que a Palavra de Deus contém a verdade, mas que é a própria verdade. O cristão que crê em Cristo como “… o caminho, a verdade e a vida” (João 14:6) é alguém que crê na Palavra de Deus depositada na Bíblia. Jesus mesmo explica a natureza dessa Palavra de Deus. Ele disse, “Vocês estudam cuidadosamente as Escrituras, porque pensam que nelas vocês têm a vida eterna. E são as Escrituras que testemunham a meu respeito” (João 5.39). É pela Palavra de Deus somente que nós conhecemos Cristo e a verdade do evangelho, que cremos e que somos salvos.

Mas crer nesse Cristo das Escrituras significa que nós também apoiamos essa Palavra tal como Ele o fez. O próprio Jesus declarou a respeito da Palavra de Deus, “A Escritura não pode ser anulada” (João 10.35). Ela é essencialmente uma Escritura (Jesus usa o singular e não o plural). Uma só Palavra de Deus, uma verdade indestrutível. E não contém erros. A verdade é por sua própria natureza oposta à mentira. Salientando que a Palavra de Deus, a Escritura, não pode ser anulada, Jesus não dá margem a mal-entendidos. A Escritura é verdadeira no seu todo, do início ao fim. Negue este fato, e você nega Cristo e chama Deus de mentiroso.
“[…] Que impede que eu seja batizado?” (v.36). Essa pergunta não é um pedido por mais informações, mas o pedido de uma nova vida. Ouvintes de leitores reunidos em torno das Escrituras; ouvindo, questionando, conversando sobre a fé: Esse é o banquete Hermenêutico – Alan Brizotti. É assim que termina a história desse encontro e o Cristo das Escrituras vence mais uma vez.

Considerações Finais
A igreja cristã está diante de um mundo cada vez mais envolvente e tentador. O progresso e a consequente modernidade têm afetado direto e indiretamente a igreja brasileira de um modo geral. Esse envolvimento é percebido através do comportamento de jovens e adultos. O mundo exterior está se introduzindo no seio da comunidade cristã, a cada dia atingindo a toda igreja independentemente de idade e sexo.

A sociedade está caminhando a passos largos por um caminho que não sabe onde vai dar. Só as gerações futuras saberão o que a sociedade os outorgou. Nos parece, que não receberão hereditariamente uma herança digna, que possa expressar todo o valor do ser humano feito à imagem e semelhança de Deus.
Os valores éticos e morais foram abalados e estão sendo deixados de lado. Nada mais significam, e o que é pior, há uma acentuada inversão de valores em curso na sociedade moderna. Dentro deste contexto, observamos que práticas erradas e pecaminosas, estão sendo absorvidas sutilmente pela igreja, sem questionamento e sem molestação ou sem serem criticadas à luz do conhecimento da Palavra de Deus. Precisamos reagir a isso…

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