Disputa na Terra Santa

“O que é mais sagrado? O Muro, a Mesquita, o Sepulcro? Quem tem direito? Ninguém tem direito, todos têm direito!… Defendemos esta cidade (Jerusalém) não para proteger as pedras, mas as pessoas que estão dentro dela”. Frase dita pelo personagem Balian (ator Orlando Bloom), no filme “Cruzada”,  título original, “Kingdom of Heaven” (2005).

Há séculos israelitas e árabes muçulmanos vivem no território do atual Estado de Israel, mais conhecido pela historiografia como Palestina. Estes povos coexistem até hoje no mesmo espaço geográfico considerado sagrado pelas religiões judaica, cristã e islâmica. Estas terras foram alvo de disputas e conquistas, ora por cristãos, ora por muçulmanos, durante boa parte da Idade Média em episódios conhecidos como Cruzadas.

As tensões existentes hoje entre israelenses e palestinos tiveram início muito antes da criação do atual Estado de Israel, mais precisamente no final do século 18, início do século 19, quando se passou a conceber na Europa a criação dos Estados Nacionais ou Estado-Nação. Um Estado-Nação tem como principio básico garantir a soberania política e militar de determinado povo com características e identidades singulares (cultural, histórica e étnica) dentro de determinado território. A partir dessa concepção surge entre os israelitas o movimento Sionista  e com ele o retorno de milhares deles ao lar de seus antepassados (Israel, Palestina). As atrocidades cometidas pelos nazistas contra judeus europeus durante a 2ª Guerra Mundial aumentou a pressão sobre as potências do Ocidente para a criação de um Estado-Nação para eles, e em maio de 1948 é declarada a criação do Estado de Israel. Após esse marco histórico para o povo israelita, árabes e israelenses se enfrentaram em sucessivas guerras (Guerra da Independência em 1948, Guerra dos seis dias em 1967 e Guerra do Yom Kippur em 1973), nas quais diversos países árabes tiveram participação ativa (Egito, Síria, Líbano, Transjordânia). Diversas resoluções da ONU foram criadas e acordos traçados (Camp David) para solucionar o impasse que gira em torno da questão da divisão do território entre palestinos e israelenses.

Este é um assunto complexo, do qual não sou um especialista, mas o fato é que esse conflito não gira apenas em torno da divisão de terras, mas também de questões religiosas, políticas e militares. Resumindo o que diz Marcio Scalercio no livro Oriente Médio (2003), publicado pela editora Campus: “Ainda que o governo de Israel entregue 95% dos territórios ocupados aos palestinos, não se empenharia em de fato conceder soberania político-militar a este povo. Já que seu domínio se mostra através dos check-points, do controle sobre os transportes e fornecimento de água e energia e do espaço aéreo”. Segundo este autor, todas essas condições fazem parte da pauta israelense para reconhecer o Estado Palestino e o povo palestino não está disposto a aceitar essas condições. Quem no lugar deles estaria disposto?

Por outro lado, a participação de grupos extremistas na política palestina, caso do Hamas, é um fator que dificulta em muito o reconhecimento do Estado Palestino. Israel teme que fora de seu domínio político-militar os palestinos (bem estruturados) se tornem mais um inimigo entre os muitos existentes no mundo árabe que desejam a destruição do seu Estado. Além disso, nos últimos 30 anos, as intifadas e revoltas geradas por grupos extremistas tem sido o principal pesadelo de Israel e dificultado os acordos de paz. O fato é que há intransigência tanto de um lado quanto de outro.

Ambos os lados tem suas razões para lutar pelo exercício dos seus direitos, ambos os povos têm o direito de viver em paz e dignamente naquele território. Nós, cristãos, não devemos agir com parcialidade. O propósito de nosso Senhor Jesus não é que judeus ou árabes dominem essas terras, pois Ele diz em Mateus 24.2: “Vocês estão vendo tudo isso? Eu lhes garanto que não ficará aqui pedra sobre pedra; serão todas derrubadas”. O propósito maior de Cristo é que toda a humanidade (gregos, romanos, judeus, árabes, etc.) se renda diante do incomparável amor de Deus (Romanos 14.11).